Chupa essa: sexo oral não é (só) uma preliminar!
Chupa essa: sexo oral não é (só) uma preliminar!

Chupa essa: sexo oral não é (só) uma preliminar!
“Lóóóógico que sexo oral não é sexo!”, diz minha amiga, entre a indignação e a gargalhada. “Se for, perdi a virgindade anos antes”. Na mesma mesa de bar, as outras três mulheres também acreditam que a prática não passa de um bom ~esquenta. Boto a boca no mundo pra discordar, mas confesso que a língua portuguesa não colabora. Entre as definições formais de “preliminar” que encontrei nos dicionários estão “negociações prévias”; “que dá início a”; “que antecede o ato sexual”.

Então, quando o ato sexual começa e termina? Elas me olham como se eu estivesse perguntando algo tão óbvio quanto o formato do planeta Terra. “Começa com a penetração”. Hum, sei. “Em geral, termina quando ele ejacula”. Curioso, né! O que entendemos por sexo está ligado – essencialmente – ao pênis e ao prazer do homem. A gente deveria estabelecer que sexo sem orgasmo feminino não é sexo. Que é pré-requisito a mulher ter gozado.

Na lógica de que a penetração valida o sexo, enquanto o resto é uma espécie de brincadeirinha erótica, podemos concluir que a maioria das mulheres homossexuais não transa ou nunca transou na vida. Podemos refletir sobre o assunto imaginando cenas do tipo: o homem faz sexo oral na (o) parceira (o), que ~chega lá. Muito excitado, antes de penetrar, ele ejacula e perde a ereção. Não rolou sexo porque não rolou pênis dentro da(o) vagina/ânus?

Muitas adolescentes que praticam sexo oral e anal se declaram virgens porque têm o hímen preservado. Pra elas, o que acontece no canal vaginal é o fator determinante. Determinante pra quem? Não que essa “via” lhes garanta orgasmos. Aliás, pelo contrário. As pesquisas revelam que cerca de 70% das mulheres não atingem o clímax apenas pela penetração – é preciso algum estímulo no clitóris (simultâneo ou não).

Meses atrás, usuários do Twitter defenderam numa sequência de frases bem-humoradas que sexo oral não é preliminar – já é sexo! Tuitaram coisas como “Preliminar é vem aqui em casa pra gente ver um filme”; “Preliminar é curtir os posts antigos do crush”; “Preliminar é a pessoa gostar de Game of Thrones”; “Preliminar é fazer a depilação”. Em outras palavras, tudo aquilo que ainda está muito distante do contato ou estímulo dos genitais, da troca de carícias íntimas.

Arrisco dizer que sexo oral pode ser mais explícito que qualquer tipo de penetração e posição mirabolante na cama. Embrenhar-se de cara entre as pernas de alguém, ficando com olhos e nariz e boca numa proximidade tão grande de vulva, pênis, saco escrotal, ânus alheio… requer ~desprendimento de uma das partes e autoconfiança, da outra. Não à toa, tantas mulheres fazem, mas não se sentem à vontade de receber. Somos muito complexadas com a nossa estética, nossos cheiros e gostos.

O maior problema de tratar o sexo oral como preliminar, e não como sexo, é dispensar o uso da camisinha “porque não engravida”. Verdade: não engravida. Mas isso não faz da prática 100% segura. O contato dos lábios e da mucosa com secreções vaginais, esperma e sangue pode transmitir/contrair doenças como herpes genital, gonorreia e HPV. A camisinha reduz drasticamente o risco de contágio. E eu não tô falando da boca pra fora!

*Este texto foi originalmente publicado na coluna da Nath no portal Bayer Jovens.

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